Governamentalidades latino-americanas: tramas entre colonialidade e neoliberalismo

A presente coletânea inaugura a Coleção Desbordar e reúne pesquisadores latino-americanos dos campos da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia Social e do Direito para interrogar os entrelaçamentos entre a história da colonização no continente, a formação dos Estados nacionais e as formas sociais (re)constituídas a partir e em consonância com agenda neoliberal desde os anos 1970 – tomando o golpe militar no Chile como evento inaugural. O livro está dividido em três seções: 1) Neoliberalismos e governamentalidade; 2) Neoliberalismos e trabalho e 3) Neoliberalismos e espacialidades. Na primeira parte, que se abre com a tradução de uma entrevista com Colin Gordon e sua provocação com relação aos limites da governamentalidade como arranjo capaz de interligar Estado, Lei e o horizonte de uma sociedade pacificada e com algum grau de coesão, os capítulos exploram, a partir de diferentes recortes, os laços entre Estado, burocracia, racionalidades de governo mergulhadas na colonialidade e encarnações dos neoliberalismos no continente. Na segunda parte, os capítulos exploram tanto os limites do trabalho assalariado formal na América Latina e seus efeitos sobre as formas de subjetivação e organização dos trabalhadores quanto examinam transformações no núcleo duro do mercado de trabalho formal, inteiramente modificado pelas transformações nas relações de produção e nas estratégias de produção de legitimidade e identidade profissional. A terceira seção traz um conjunto de capítulos que examinam os sentidos do espaço na gestão das cidades, das comunidades que têm resistido e resistem aos processos de colonização/desenvolvimento e das diferenças, encerrando-se com a tradução de um artigo de Elizabeth Povinelli. O livro começou a ser preparado em 2019 e foi atravessado tanto pela pandemia quanto por transformações no âmbito da política institucional por todo o continente, processos que deixaram suas marcas nas preocupações partilhadas pelos autores e na própria perspectiva de seguir pensando em comum as possibilidades e os desafios de nosso presente.